domingo, 15 de março de 2009

Para meu pai

Sinto saudades.

Não que eu queira sentir, apenas sinto.

Saudade pode ser boa.

Saudade pode ser ruim.

Saudade da infância, do tempo de escola, das tardes perdidas na frente da TV.

Saudade do gosto daquele doce, do cheiro da chuva, do travesseiro de criança.

Saudosismo gostoso, bom, divertido e que sempre sussurra boas histórias na nossa desgastada memória...Quando ela aperta... é só fechar os olhos e... pronto! A nossa saliva fica com o gosto daquele doce, as narinas são inundadas pelo vapor da chuva que caiu no chão quente do verão e a pele sente o textura daquela fronha antiga...mas para algumas coisas fechar os olhos não resolve.

Sinto saudades do barulho das sandálias pisando pelo chão da casa nas manhãs de todos os dias.

Sinto saudades do cheiro do cigarro no banheiro.

Sinto saudades dos roncos que embalavam minhas madrugadas de filmes na TV.

Sinto saudades das rabugices diárias sobre qualquer coisa.

Sinto saudades daquela figura sentada na varanda lendo todo o jornal do dia.

Sinto saudades do silencio de sempre e da presença certeira.

Tento fechar os olhos na esperança de experimentar tudo de novo, mas não há mais o barulho dos passos, o cheiro do cigarro, nenhuma rabugice, ninguém lendo jornal...A única coisa que tenho é o silencio de sempre, mas tristemente sem a presença certeira.

Saudade pode ser boa.

Saudade pode ser ruim.

A minha... ainda doi.