Já tinha desligado o PC e estava me preparando para deitar, mas antes fui até a varandinha bater um papo com o meu cachorro. Acendi um cigarro e fiquei observando a fumaça serpenteando pelo vento frio desta noite de quase verão.
Da ponta em brasa do cigarro, a serpentina de fumaça subia lentamente, formando meandros delicados pelo espaço que, repentinamente, eram esfacelados pelo vento frio da noite. Observando aquela serpentina de fumaça, pensei na fragilidade das coisas e inevitavelmente pensei na frugalidade da paixão.
Assim como a fumaça que esvai-se da brasa de um cigarro, toda a paixão também começa com fogo, fazendo com que nossa alma seja aos poucos, consumida como uma brasa, esvaindo-se em uma fumaça de sentimentos, serpenteando o espaço até que, lentamente se dissipa no nada. Mas assim como o cigarro, a paixão acaba. A fumaça é dissipada pelo vento e a brasa apaga-se, sobrando apenas uma bituca, que inevitavelmente será jogada ao chão.
O cigarro acabou e, após este devaneio, sorri da minha estupidez de comparar a paixão a um cigarro, afinal fumar não faz bem a saúde. Porém, voltando aos meus devaneios, pensei... mas e a paixão faz bem? Esta também não é viciante? Enfim, ao perceber que não conseguiria responder a estas questões, voltei a colocar meus pés no chão, atirei a bituca no gramado, fechei os olhos e resolvi curtir o vento frio da noite.
A pele do meu rosto, braços e pernas sentiram aquele toque gelado e ligeiramente úmido, fazendo me sentir aquele friozinho suportável e agradável. Mas este frio na pele ressaltou em minhas lembranças o calor do seu toque, a textura da sua pele, o gosto da sua boca e a cada rajada mais forte de vento, jurava que podia até sentir seu cheiro.
Por alguns instantes revivi em minha mente alguns dos nossos momentos. Mas ao abrir os olhos, percebi o vazio de uma noite escura. É perceptível minha melancolia, porém, assim como a nicotina, ela alivia algo dentro de nós.
Por hoje, ainda não decidi largar o cigarro.
Por hoje, não quero deixar de gostar de você.
MT
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